Ao longo de sua trajetória acadêmica, Maria Helena Souza Patto escreveu e organizou onze livros, sendo cinco totalmente autorais, um resultado de uma pesquisa coletiva coordenada pela autora e cinco coletâneas de autores (co)organizadas por ela.
Todos os livros estão brevemente descritos a seguir.
Além nas sinopses de todos os livros, materializamos um desejo antigo da autora – que sua produção intelectual pudesse ser disponibilizada prescindindo de comercialização.
Assim, com alegria, compartilhamos abaixo os links para acesso gratuito de cinco livros consagrados da autora, reeditados em formato e-book. São eles:
- Psicologia e Ideologia: uma introdução crítica à Psicologia Escolar
- A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia
- Mutações do cativeiro: escritos de psicologia e política
- Exercícios de indignação: escritos de educação e psicologia
- A cidadania negada: políticas públicas e formas de viver
(Não foram incluídos o livro do Mestrado, descartado pela autora, pois ele corresponde a um momento de sua trajetória intelectual ao qual ela mesma passou a se opor, tal como brevemente relatado em sua biografia intelectual; e as cinco coletâneas de autores (co)organizadas por ela.)
Mesmo sem alterar o conteúdo (afora ajustes ortográficos), o trabalho de reedição dos livros foi intenso. Não havia os documentos abertos da maioria deles, sendo necessário digitalizar o material, após o que foi feita a revisão das mais de 1600 páginas, trabalho realizado por Lygia de Sousa Viégas, Tito Loiola Carvalhal e Jackson Barbosa da Costa. A diagramação ficou por conta de Luiz Cláudio de Melo.
As artes que ilustram as capas foram presente de Alex Frechette. Formado em Artes Plásticas, Frechette é multiartista, escritor e professor de artes na rede pública do Rio de Janeiro, tendo forte acento político em sua criação.
Os livros reeditados foram publicados pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e abrigados no Portal de Livros Abertos da USP. Para tanto, foi fundamental o apoio do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (Instituto de Psicologia – USP), que destinou recursos provenientes da verba PROAP, concedida aos Programas de Pós-graduação brasileiros pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior – Brasil (CAPES), para esse fim.
Coleção de e-books
A cidadania negada: políticas públicas e formas de viver
Lançado originalmente em 2009, este livro é produto dos relatos de trinta e cinco homens e mulheres, adolescentes ou adultos, a respeito de suas formas de viver a presença ou a ausência, em suas vidas, das políticas públicas nas áreas do trabalho, da educação, da habitação, da cultura e do lazer, da segurança e da saúde. Realizado por um grupo de pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, este trabalho quer contribuir para a compreensão das formas subjetivas de vivê-las, não para relativizar a adversidade pelo elogio ideológico da capacidade surpreendente de adaptação de abstratos “seres humanos”, mas para sublinhar que o sequestro dos direitos atinge o cerne das pessoas, causa sofrimento, requer grande investimento psíquico e pode dificultar o próprio entendimento dos determinantes reais da situação em que se encontram.
Exercícios de indignação: escritos de educação e psicologia
Lançado originalmente em 2005, nele a autora retoma e atualiza alguns temas relevantes nas áreas da educação e da psicologia. Na área da educação, a política dos anos 1990 esteve longe de atacar os reais problemas que instalaram a dualidade escolar no coração da sociedade brasileira. Ministros e secretários da educação buscaram, como regra, a melhoria das estatísticas educacionais e o barateamento dos investimentos públicos em educação. Como cortina de fumaça, a retórica da “inclusão escolar”, como se não soubessem de sua impossibilidade em um país cuja política educacional foi pautada em crescente e espantoso descaso pela formação intelectual. No campo da Psicologia, aponta-se a invasão do discurso dos psicólogos por expressões fundidas nos fornos da indústria editorial: “autoestima”, “inteligência emocional” e “pedagogia do amor” são novas mercadorias vendidas no atacado e no varejo por editoras e livrarias, empresas de assessoria e consultórios de psicologia.
Mutações do cativeiro: escritos de psicologia e política
Lançado originalmente em 2000, os ensaios aqui reunidos foram escritos entre 1993 e 1999. Alguns já apareceram em publicações que vêm sendo indicadas no fim de cada texto. Todos eles tratam da relação de homens contemporâneos com a opressão social. Todos eles nos contam, cada um a seu modo, sobre o lugar da ciência moderna na esfera do poder, e a organizadora menciona o encontro inevitável com Cortázar de Prosa do Observatório, uma das críticas mais exatas, porque poética, que já se fez do projeto político de tudo conhecer para tudo controlar.
A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia
Lançado em 1990, o livro Produção do Fracasso Escolar: Histórias de Submissão e Rebeldia busca “contribuir para a compreensão do fracasso escolar enquanto processo psicossocial complexo”. Para tanto, tece uma revisão crítica da literatura na área e apresenta uma longa pesquisa de campo realizada no chão de uma escola pública de um bairro pobre na cidade de São Paulo entre os anos de 1983 e 1985. Em sua análise da vida escolar, a autora alcança, de forma original, um olhar não apenas para os movimentos de submissão, mas também de rebeldia ao que está posto. Em 2015, foi lançada uma edição revista e ampliada, marcando 25 anos desde a publicação original.
Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à Psicologia Escolar
Publicado originalmente em 1984, este trabalho é, acima de tudo, um depoimento. É o relato do início de uma trajetória profissional difícil, que tem suas raízes na tradição positivista dos cursos brasileiros de formação de psicólogos: nos laboratórios de psicologia animal e de mensuração psicofísica e psicológica de seres humanos, nos contextos terapêuticos em que o objetivo é a remoção de comportamentos disfuncionais, nos projetos de pesquisa nos quais os chamados “sujeitos” não passam de objetos, observados e medidos em situações supostamente assépticas, neutras, objetivas. Partindo da crítica da psicologia instrumental (do conhecimento psicológico como dimensão da consciência necessária da sociedade, isto é, da consciência das classes dominantes), este trabalho pretende colaborar na elaboração permanente de uma psicologia crítica (de um conhecimento psicológico enquanto dimensão da consciência possível da sociedade, ou seja, da consciência das classes exploradas), capaz de situar historicamente seu próprio conhecimento, seus compromissos e suas possibilidades de transformação social.
Coletâneas de autores
Práticas inclusivas em escolas transformadoras: acolhendo o aluno sujeito
Lançado em 2017, livro em coorganização com Maria Cristina Kupfer e Rinaldo Voltolini, para pensar a inclusão escolar. Nele, há um capítulo da autora.
Formação de psicólogos e relações de poder: sobre a miséria da Psicologia
Última coletânea de autores organizada pela autora, foi lançada em 2012. Como disparador de sua organização, um acontecimento trágico envolvendo um laudo psicológico. Provocada pela seriedade que envolve o exercício da profissão, Maria Helena reuniu um grupo composto por onze autores com o objetivo de pensar criticamente a formação de profissionais da psicologia.
Perspectivas teóricas acerca do preconceito
Coletânea organizada por Maria Helena Sousa Patto, Sylvia Leser de Mello, Maria Luisa Sandoval Schmidt e José Leon Crochík, lançada em 2008, reunindo textos apresentados em evento de mesmo nome. São quatro textos, um de cada organizador, analisando o preconceito por diferentes perspectivas.
Pensamento cruel – Humanidades e Ciências Humanas: há lugar para a Psicologia?
Coletânea coorganizada com João Augusto Frayze-Pereira e lançada em 2007, o livro reúne textos produzidos a partir de evento com mesmo nome, realizado na Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo, em 2004. Dividido em quatro partes, 14 pensadores da filosofia, da psicologia, da literatura, da psicanálise, da história e das ciências sociais tensionam o lugar da psicologia entre as humanidades, num debate que se dispõe a levar a crítica ao extremo.
Introdução à Psicologia Escolar
Primeiro livro organizado por Maria Helena depois do mestrado. Datado de 1981, trata-se de uma coletânea, de caráter introdutório, na qual Maria Helena já anuncia alguns passos em direção a uma concepção mais crítica. Uma terceira edição revista e atualizada foi lançada em 1997, com mudanças significativas no conteúdo, com a retirada e acréscimo de capítulos.
Livro
Privação cultural e educação pré-primária
Lançado em 1973, refere-se à pesquisa de Mestrado. Nele, Maria Helena deixa transparecer ao mesmo tempo a preocupação com a desigualdade escolar e o olhar embaçado pela ideologia dominante na compreensão do fenômeno. Realizada parte no Brasil, parte nos Estados Unidos, a pesquisa pretendia afirmar a importância da educação compensatória para aprimorar o desenvolvimento cognitivo de crianças que, pela condição de pobreza, padeciam de “privação cultural”. Sendo nítidos o compromisso com a educação do povo e a aposta na sua capacidade de se desenvolver, a desconfiança em relação aos resultados aparece, ora de forma sutil, ora declarada.